sábado, 29 de janeiro de 2011

The W o l f and the L I O N E S S ~ 2

   Pequena e selvagem, ela era a Leoa. Não havia dúvidas. Tinha o corpo e a idade de uma menina, mas a beleza e a força de uma mulher. Os olhos castanhos eram ferozes, e os cabelos dourados caíam leves pelos ombros, onde desciam até o meio das costas. Os lábios pequenos e rosados estavam sempre fechados numa irritação de seu gênio forte, assim como as sobrancelhas juntas que formavam rugas de frustração em sua testa. E era gostoso de sentir, um temperamento tão único e dela.
   Ela, porém, era tão frágil dentro daquela casca de ferocidade. Tão amável e tão meiga, tão simples e tão mulher. Sorria e chorava, confiava e temia. A Leoa me deixara passar pela barreira que nos separava, e eu sabia que sua pele tão levemente bronzeada não era apenas a de uma guerreira – mas de uma guerreira mascarada que não queria sofrer aos outros.
   E, quando me sorriu pela primeira vez, vi em suas bochechas tímidas covinhas. Como um anjo, não mais como uma leoa – não mais reservada somente a si. Foi quando vi que o muro que não me deixava passar havia sido destruído; foi quando vi que ela seria minha. Minha leoa, meu anjo.


                                               ~ The Wolf

The W O L F and the L i o n e s s ~ 1

   Ele era lindo. Não como os outros; ele era – em toda sua simplicidade e inocência. Tinha grandes olhos castanhos, redondos e tão expressivos em cada emoção; o nariz era grande e largo e combinava com os lábios cheios e perfeitamente desenhados na boca; os cabelos curtos bagunçados eram castanho-escuros e davam-no um ligeiro ar de aventura – uma aventura perigosa, ao amor ou ao ódio, à vida ou à morte. Tudo tão simples, mas diferente.
   Eu sabia quem ele era, eu sabia o que ele era. Nada em seu corpo negava, mas admitia sua verdadeira natureza. Seu sorriso era diferente de tudo que eu conhecia ou pensaria conhecer – dava-me segurança, a proteção de que eu sempre precisei. E seu rosto, sua expressão... Era apenas uma criança, como eu; vivia a aventura de seus dezesseis anos. Mas, embora inocente, era como um homem. A maturidade estava em suas mãos, em seus ombros largos, em seus braços fortes; estava em sua pele morena e em seus gestos, em cada pequeno movimento de seu corpo.
   Ele era humano; ele era lobo. Não era nem um nem outro – ele era ele, apenas ele. Ele era meu.


                                             ~ The Lioness

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

B L O O D & C h o c o l a t e ~ 1

   E ela, com aquele belo vestido vermelho-sangue – perfeito em sua pele pálida e macia –, convidou-me para entrar no quarto; sedutora como ela mesma, segurava nas mãos duas taças de vinho. Uma taça seguiu delicadamente para seus lábios cheios e rosados, que se abriram num sorriso travesso; a outra, em minha direção, ergueu-se um pouco mais com a mão que a segurava, oferecendo-me. Eram irrecusáveis – o primeiro e o segundo; o convite e o cálice – ambos da morte.
   Eu estava hipnotizado – com a dama, com o calor, com o prazer que antes nunca havia sentido. Todos os elementos que vivem em um romance literário, estranhamente, estavam ali – e me esperavam, ansiavam minha chegada. O brilho da lua entrando pela janela aberta e iluminando a cama luxuosamente arrumada, como num suspense erótico, o vinho deliciosamente doce, as carícias leves e provocantes que antecedem o fim.
   E, no ápice da sedução, ela me levou à cama. Era tudo tão novo e luxuriante – tudo tão bom. Perfeito. Cada movimento delicado e forte num ataque súbito de prazer; cada peça de roupa que ela me arrancava em uma ansiedade inumana e eu retribuía; cada arranhão e mordida que ela me dava. E ela era forte, mais forte do que eu; fazia-me de sua presa e eu aceitava e adorava, quando meu sexo dizia que devia ser o oposto. Mas ela estava por cima, e eu me deixava ser controlado.
   Ela trilhou em meu corpo um caminho de lábios e línguas e dentes; mastigava-me e beijava-me o abdome, o peito, o pescoço, sutilmente. Queria mais, não somente a superfície. E cravou-me os caninos no pescoço, jorrando pelo quarto sangue e luxúria. Delicioso!
   Mas, como se fosse errado sentir o que eu sentia, a dor e o medo cobriram o prazer. Eu queria gritar, mas não havia voz; queria chorar, mas não havia lágrimas. Apenas agonia e desespero. E eu senti forte no peito meu coração batendo, pedindo para sair de sua prisão dolorosa. Sentia meu sangue arder, como no inferno, sentia-o borbulhar. E a dama de vermelho embriagava-se de meu vinho, gemendo e roçando seu corpo sobre o meu. Era um prazer para ela, assim como foi para mim – e continuaria sendo para a eternidade.


Eu acordei, sem saber que havia adormecido. Sentia-me tonto e perdido. E, quando a confusão acabou, um flash de minha última noite acordado passou bem diante de meus olhos – o pavor em um segundo. Pensei que deveria me sentir desesperado, mas não havia por quê; eu estava ótimo, nunca havia estado tão bem.
   Meu corpo não doía, como antes, e eu não sofria mais – não o mesmo sofrimento. Não como naquela noite – por dor –, mas por fome – por sede. Uma sensação completamente nova e dolorosa; sentia a falta do que eu nem imaginava que poderia ser – mas saberia assim que encontrasse, sabia.
   E a senhorita de vermelho, com um sorriso pervertido no rosto, voltou ao quarto. Segurava duas taças do mais doce vinho que eu já havia provado – o vinho que saciou a minha sede.